segunda-feira, outubro 25, 2004

Reencontro



A contagem decrescente começara. O tic-tac do relógio tornara-se incomodativo e deveras insuportável. Eram dois corpos separados e unidos pelo mesmo pensamento.

Finalmente, a contagem decrescente chegara ao fim. As saudades aumentaram radicalmente e a ânsia de que o momento desde há muito esperado chegasse, era muita.
O momento chegou. Estavam preparados para o reencontro, para o fim-de-semana só deles em que tudo à sua volta seria secundário. Naqueles dois dias, só eles faziam parte do mundo.
O brilhozinho nos olhos era inevitável e a troca de olhares não passava despercebido. Ela sorria e corava e ele, receoso, sorria, também.
Esqueceram-se de tudo o resto. Dos medos; dos receios e das dúvidas; da história complicada que tinham que passar para poderem ficar juntos. Naquele momento só o amor contava.

Um amor adulto mas vivido de modo adolescente, inconsciente, talvez. Mas é de amor que se fala e isso explica tudo. Não se escolhe quando e quem se ama. Vive-se, ama-se e nada mais.

Quem passava e os via, sorria.
Era bom ver um amor assim. Ninguém sairia indiferente, sem um sorriso no rosto, depois de ver o grande sentimento que pode existir entre duas pessoas.

Agora, o tic-tac começara. O tempo passara a uma velocidade aterradora. Iriam, por tempo indeterminado, ficar longe um do outro. O brilhozinho nos olhos passou, o sorriso esmoreceu. O tempo “só deles” tinha chegado ao fim.

Beijaram-se e disseram adeus.


PS: imagem de Rui Vale de Sousa

sábado, outubro 16, 2004

Medo perante as dúvidas



Fecho-me no meu quarto. Finjo os sentimentos na tentativa de cair no meu próprio engano; finjo para que não haja qualquer tipo de preocupações.
Sinto os pés gelados. Um estranho frio habita no meu corpo. Talvez seja a frieza dos meus sentimentos; a frieza com que de momento lido com eles.
Não sei, ou não quero saber, como me sinto. Tenho medo de descobrir que já não te amo; tenho medo de saber que, na verdade, nunca te amei; tenho medo de saber que sou fraca em sentimentos e que nem os sei destinguir; tenho medo que um novo engano me surja, que me faça viver mais uma ilusão e que as lágrimas recomecem a cair. No fundo, sinto que não me conheço: tudo o que me parecera tão fácil é, agora, uma estranha sensação de mentira, de uma realidade dura ao qual eu, ainda, não estou preparada para enfrentar. Escondo-me na minha concha sem procurar ninguém, apenas na tentativa de ser encontrada. Por quem? Não sei. Apenas por alguém que me faça ter certezas; alguém que me possa mostrar que um sonho pode ser a vida; alguém que me faça sorrir sem que depois eu tenha que cair. Tenho tanto medo de me enganar de novo. Se realmente eu te amo não quero deixar de te amar, mas no fundo, não quero viver, para sempre, assim: com medo de avançar; de me refugiar e com isso me perder numa solidão que só eu irei conhecer. Quero de novo sorrir seja contigo... ou não!



PS: imagem de autor desconhecido (pelo menos eu não sei de quem é)

domingo, outubro 10, 2004

União



Era Inverno, e como tal a chuva escorria sobre a janela do seu quarto. Lá fora a escuridão era mortífera. Entre várias hesitações decidiu sair. Precisava de arejar. Sentia-se carregada de emoções. Insegura vestiu a gabardina e sem chapéu, saiu. Saiu descalça. Caminhou horas a fio sobre a areia molhada que habitava junto de sua casa. O mar, curiosamente, estava calmo. Parou. Sentou-se e assim ficou: a olhar para aquele mar; a desfrutar da sua beleza e de tudo o que ele lhe podia dar. Precisava dele; dos seus conselhos e da sua sabedoria. Da sua calma; da sua razão. Sentiu-se protegida e junto da mãe que já não vira há muito. Deixou escorrer uma lágrima e depois esboçou um sorriso. Tinha saudades: da mãe. Era pequena quando a mãe teve que partir. Deixando-a com aquele que melhor a podia cuidar: o mar.

Deixou-se adormecer. Estava cansada de andar sobre aquela areia molhada; cansada de se sentir perdida; cansada de se sentir tão só. Acordou com uma onda que passou por cima do seu corpo. Tremeu. Estava, agora, com frio. Olhou à sua volta e não aguentando mais entrou num choro profundo.

Reparou que, bem perto de si, uma sombra a acompanhava. Lentamente subiu o rosto e uma mão, estendida, esperava a sua. Um olhar. Apenas um olhar tornou-os cúmplices. Espontaneamente nasceu um sorriso tímido da jovem que lhe estendeu a mão.

Agora, de mãos unidas, tornaram-se um só.
Inseparáveis.
Sentia-se agora de alma quente. Aquele vazio que nunca conseguira explicar estava, agora, preenchido. Sem quaisquer palavras, olharam-se. E assim ficaram por longos segundos, como se assim quisessem ficar para sempre. Olhos nos olhos. Seria a eterna felicidade que ambos desejavam. Olharam-se mais uma vez e beijaram-se.

quinta-feira, outubro 07, 2004

Num outro mundo...

Longe,
timidamente de olhos escondidos
com sonhos destruídos.
Vidas esquecidas
longe do mundo:
sobrevivem,
numa infelicidade rotineira
sem saber o que é ser-se amado.
Abandonados. Esquecidos.
São gente:
sem sorrisos;
sem sonhos.
Apenas desejam serem abraçados;
Amados. Por quem? Não sei.
Por alguém capaz de os fazer sorrir,
Sem medos, por alguém capaz de, jamais, os esquecer;
Por alguém que os sinta como gente
direito a felicidade ter
de tudo conseguir obter.
Longe do mundo:
de coração nobre,
humilde e generoso
que sofre nas garras do mais poderoso.
Injustiça. Revolta.
Choram as lágrimas de sangue
Que os acompanham nesta vida.
Habituados a nada ter,
deitam-se na palha
e deixam a “última” lágrima escorrer.



O poema foi escrito pensando em todos aqueles que dariam tudo para ter a nossa vida, vida essa que nós passamos diariamente a reclamá-la. Todos aqueles que vivem distantes, numa outra realidade. Sem as condições básicas para que se possa viver minimamente.

sábado, outubro 02, 2004

O regresso às aulas



Depois de muita falta de profissionalismo, pois assim considero, a escola lá “abriu portas”. Começou.
E o curioso foi sentir um “friosinho” e um aperto na barriga. Estranho. Considero estranho pelo facto de já conhecer toda a gente e de a escola já não me ser estranha. Deve ter sido da ansiedade, certamente. Mas também senti que ia ser um ano extremamente positivo, até porque, só (ou pelo menos grande parte) depende de mim.
Estou deveras contente por voltar, após quase 4 (quatro) meses, à minha vida de estudante: já me faz falta.

E então foi ontem que tudo começou; que se deu início à apresentação. Na quarta-feira, dia 6 de Outubro, tudo começa verdadeiramente. Só espero que não hajam mais lapsos, erros, que nos possam prejudicar: como começar o ano sem professores. Espero que tudo se resolva o mais rapidamente. Assim espero.