Assusta-a olhar para si e ver naquilo em que se está a tornar. Perfeccionista em demasia; obcecada em atingir a meta proposta. Olha-se ao espelho e depara-se com um exterior cansado, que liberta compulsivamente lágrimas de um sofrimento que vai aumentando dia após dia. Esse derrame de lágrimas é a prova que ainda se mantém viva, mesmo que por dentro se encontre morta. Está cansada! Cansada da vidinha perfeita e responsável que leva. Cansada das horas que não dorme, dos problemas que a atormentam e do medo que tem em não conseguir alcançar o sonho por que tem trabalho anos e anos. Cansada dos sacrifícios que faz, porque assim acha que tem que ser. E tem mesmo que ser.
Cansada.
As lágrimas continuam a cair e, aos poucos, vão-lhe corroendo o rosto. Já nem as olheiras consegue disfarçar. Profundas e quase negras. Não quer desistir, mas, de momento, o que mais quer é parar de sofrer. Anseia pelo dia que alguma coisa lhe seja entregue sem, por isso, ter que se matar a trabalhar arduamente. Nada lhe corre bem. E tem consciência de que a sua obsessão por ser perfeita - que acaba sempre por não o ser - está a levá-la ao extremo, ao máximo que qualquer ser humano consegue aguentar.
Mesmo que ainda haja uma força - não sabendo ela de onde possa vir - que a faz caminhar, ela pára. Odeia-se. Não quer continuar a sofrer desesperadamente para que um dia - futuramente - possa ser feliz, até porque, esse dia pode nunca chegar. E do que lhe valeu tanto esforço e dedicação? O que valeu deixar de sorrir, de cantar, de representar, de amar para ter talvez um dia de felicidade? Para quê abdicar tanto?
Desiste. E, se já se encontrava quase morta, agora encontra-se definitivamente enterrada.