Carta
Acordou. Espreguiçou-se e dirigiu-se à janela, não havia vento mas estava frio. Decidiu que hoje não iria sair de casa, optou por escrever, antes que a tinta se acabasse. Estava perante meia dúzia de folhas brancas – para o caso de se enganar. Queria escrever mas não sabia quais as palavras que deveria colocar naquelas folhas. Pensou e decidiu escrever uma carta. Já não o fazia há muito, agora com as novas tecnologias deixara de escrever à mão, de escrever uma carta e de a colocar no correio, habituara-se aos e-mails. A escrita perdera um bocado do seu encanto, no fundo, quem recebia a carta (neste caso o e-mail) não conhecia a letra da pessoa; ficaria sem saber quais as emoções depositadas em todas aquelas palavras. Não era igual. Ela sorriu por se aperceber a tempo da “loucura” que andava a cometer: a loucura de se esquecer das cartas e de viver perante o teclado, de escrever através dele. Estava certa que seria hoje que recomeçaria os seus hábitos de adolescente: as cartas renasceriam. Sorriu, mais uma vez. A carta tinha destinatário, era uma amiga que já não vira há muito, uma amiga que o destino separou. A carta começara:
Lisboa, 20 de Novembro de 2004
C. Sofia,
Há anos que nada sei de ti. Há anos que não vejo o teu rosto; que não vejo a transparência dos teus olhos. Sinto saudades, mas sei que és passado. Uma amiga de infância, uma pessoa deveras especial que jamais irei esquecer. Conheço-te como ninguém e fomos cúmplices durante anos. Inevitavelmente deixo escorrer lágrimas sobre o meu rosto, dantes eram lágrimas de tristeza por tudo o que aconteceu e pela maneira que se sucedeu; agora, são lágrimas de saudade, lágrimas ao pensar no tempo que vivi, no tempo que fui verdadeiramente feliz. Sei que farás sempre parte de um espaço unicamente reservado para todas as pessoas especiais, diferentes e importantes que eu vou conhecendo ao longo da vida e isso torna-me tranquila.
Hoje, percebo coisas que em tempos não estavam ao meu alcance, coisas que me eram impossíveis de compreender. Faço um sorriso forçado e ao escrever todas estas palavras vejo-te, a imagem da pessoa que foste e que imagino que, ainda, serás. Lamento-me pela divisão das nossas vidas; pelos caminhos opostos que escolhemos ou que fomos obrigadas a escolher. Lamento-me por isso mas fico feliz ao pensar em tudo o que vivi, contigo. Alimento-me dos momentos passados, sobrevivo a pensar no futuro, mas, principalmente, vivo a pensar no presente. Deixei que o tempo corresse; deixei que os ventos escolhessem os nossos caminhos; deixei que a nossa amizade ficasse, agora, apenas em memórias.
Deixei de pensar como as coisas seriam se se tivesse tomado outras decisões, deixei-me de o fazer porque me faz mal. Sentimentalista em excesso e tento moderar isso, mas é me muito difícil. Sei que sou diferente, sei que as amizades que faço são diferentes e até me apaixono de forma diferente e sei, também, que a minha vida é diferente. Mas é isso que me faz sentir única e verdadeiramente eu.
Cresci. Mudei. Aprendi. Caí imenso com os erros que proporcionei e com os obstáculos inesperados que vieram ao meu encontro. Por tudo isso, aprendi. Caí e isso fez de mim uma pessoa com características diferentes, fiquei, interiormente, mais forte e mais capaz de tudo resolver.
Embora, que por vezes a auto estima esteja em baixo orgulho-me da pessoa que sou e isso traz-me ainda mais forças para encarar o mundo.
A carta torna-se longa e tornar-se-á ainda maior porque se há coisa que não me falta são palavras. Estranho ou não, a verdade é que ao escrever-te, senti-te próxima, fazendo-me recordar de tempos passados e isso às vezes faz bem.
Assim termino, com a ânsia de dobrar esta carta, pô-la no envelope e de a mandar pelo correio. A tua morada sei de cor assim como todos os momentos que passámos.
Um beijo terno,
Da tua sempre amiga,
Filipa
Lisboa, 20 de Novembro de 2004
C. Sofia,
Há anos que nada sei de ti. Há anos que não vejo o teu rosto; que não vejo a transparência dos teus olhos. Sinto saudades, mas sei que és passado. Uma amiga de infância, uma pessoa deveras especial que jamais irei esquecer. Conheço-te como ninguém e fomos cúmplices durante anos. Inevitavelmente deixo escorrer lágrimas sobre o meu rosto, dantes eram lágrimas de tristeza por tudo o que aconteceu e pela maneira que se sucedeu; agora, são lágrimas de saudade, lágrimas ao pensar no tempo que vivi, no tempo que fui verdadeiramente feliz. Sei que farás sempre parte de um espaço unicamente reservado para todas as pessoas especiais, diferentes e importantes que eu vou conhecendo ao longo da vida e isso torna-me tranquila.
Hoje, percebo coisas que em tempos não estavam ao meu alcance, coisas que me eram impossíveis de compreender. Faço um sorriso forçado e ao escrever todas estas palavras vejo-te, a imagem da pessoa que foste e que imagino que, ainda, serás. Lamento-me pela divisão das nossas vidas; pelos caminhos opostos que escolhemos ou que fomos obrigadas a escolher. Lamento-me por isso mas fico feliz ao pensar em tudo o que vivi, contigo. Alimento-me dos momentos passados, sobrevivo a pensar no futuro, mas, principalmente, vivo a pensar no presente. Deixei que o tempo corresse; deixei que os ventos escolhessem os nossos caminhos; deixei que a nossa amizade ficasse, agora, apenas em memórias.
Deixei de pensar como as coisas seriam se se tivesse tomado outras decisões, deixei-me de o fazer porque me faz mal. Sentimentalista em excesso e tento moderar isso, mas é me muito difícil. Sei que sou diferente, sei que as amizades que faço são diferentes e até me apaixono de forma diferente e sei, também, que a minha vida é diferente. Mas é isso que me faz sentir única e verdadeiramente eu.
Cresci. Mudei. Aprendi. Caí imenso com os erros que proporcionei e com os obstáculos inesperados que vieram ao meu encontro. Por tudo isso, aprendi. Caí e isso fez de mim uma pessoa com características diferentes, fiquei, interiormente, mais forte e mais capaz de tudo resolver.
Embora, que por vezes a auto estima esteja em baixo orgulho-me da pessoa que sou e isso traz-me ainda mais forças para encarar o mundo.
A carta torna-se longa e tornar-se-á ainda maior porque se há coisa que não me falta são palavras. Estranho ou não, a verdade é que ao escrever-te, senti-te próxima, fazendo-me recordar de tempos passados e isso às vezes faz bem.
Assim termino, com a ânsia de dobrar esta carta, pô-la no envelope e de a mandar pelo correio. A tua morada sei de cor assim como todos os momentos que passámos.
Um beijo terno,
Da tua sempre amiga,
Filipa
13 à janela:
Quem me dera receber cartas escritas à mão! A verdade é que pela internet uma "carta" não tem o mesmo gosto, nem sabe a "carta". Afinal de contas, até lhe chamamos outra coisa, em inglês: é o mail.
Um beijinho
Sabes eu também gosto de escrever em papel. Cartas, cartões, algo onde a letra se possa ver. E ler-te fez-me lembrar dos amigos que fui deixando para trás. Beijinhos, Sara
Era uma vez...
Adoro escrever cartas de papel, o cheiro da tinta é realmente outra coisa. Tenho medo de perder, como já perdi, as amizades que tenho...A distância e os caminhos diferentes não perdoam! Seria capaz de dar a vida pelas minhas melhores amigas. Entristeceu-me muito ver a mágoa da perda na tua carta...
Jinhos.
Belo fragmento de vida em forma de carta! Carta que já não se escreve, onde tantas vezes se adivinhava a tristeza ou a alegria pelo traço hesitante da caligrafia...
Muito lindo...
E vinha eu retribuir a visita e deparo-me com uma carta. Tão linda, tão sentida... um sorriso!
Por acaso ainda hoje mantenho o hábito de escrever com papel e caneta :) o espírito é sempre outro! Parece que mandamos mais um bocadinho em cada linha que escrevemos.
Gostei muito! :)
E como já referenciei lá no meu cantinho... és amiga do grande amor da minha vida (o Teatro, é a minha grande paixão) e só por isso já és boa gente ;)
Beijinhos!
Mais bonito do que uma carta escrita a mão é o sentimento que a move...
Aqui sente-se e prova-se que existe
Beijo
"Sei que farás sempre parte de um espaço unicamente reservado para todas as pessoas especiais, diferentes e importantes que eu vou conhecendo ao longo da vida e isso torna-me tranquila."
Gosto disto. Um beijo, pequenita*
Olá,
Cartas em papel.....já nem sei o que isso é!!!
Embora tenha muitas guardadas com o maior carinho.
Seria tão bom que se voltasse a adquirir esse hábito.
Afinal será que chegaste mesmo a colocar a carta no correio?
E a morada será que continuava a mesma?
Bjs.
Querida Sara,
quando uma amizade é sincera e pura é normal que, mesmo depois de um "afastamento", haja saudade e vontade de rever o "velho amigo"!
Fico muito feliz que duas "velhas amigas" tenham amadurecido a sua amizade e voltem a reatar contactos.
Este foi o ponto de partida para que, em breve, possam combinar um encontro para por a conversa em dia (entre outras coisas).
Não percam esse elo tão importante que vos une: a Amizade!
Adorei a carta, a verdadeira carta de papel...
Beijinhosssss
;-)*****
Por que nos permitimos a perda do prazer de escrever uma carta? Melhor ainda, é recebê-las. Bonito seu texto.
Marcos
www.esculachoesimpatia.zip.net
www.poetrando.weblogger.com.br
Quer se queira ou não as cartas de papel são detentoras d euma magia propria e trazem consigo sempre algo de quem as enviou. Gostei de te ler.
*A
É nesta altura do ano que eu deixo o teclado e escrevo à mão os tais cartões que se dizem de boas festas. E reparo como a minha caligrafia se deteriorou porque levo meses sem escrever para outros pelo meu próprio punho. Adorei este texto! :-) Beijinhos e desculpa a ausência, mas acredita que foi alheia à minha vontade.
Um beijo grande a todos ;)**
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