Ana
_ Acorda, Ana!
Ana era uma jovem que tinha parado no tempo. Há dois anos que tinha desistido de continuar a crescer. Limitava-se apenas a mergulhar num lago de dor e de revolta. Infiltrava-se, todos os dias, num mundo que já não existia. O mundo de todos aqueles que ela amara e que um dia os viu partir.
Deixou os estudos e, em tempos, chegou a estar internada numa clínica psiquiátrica.
Refugiou-se no quarto, isolou-se daqueles que a amavam e nunca mais viu a luz do sol.
Entre o sono e a escrita, assim ia vivendo. Dormia durante o dia e à noite brincava com as palavras. E, assim, reconstruía o seu mundo, rendendo-se à escrita, ficando, por isso, escrava das palavras. Agora, só uma coisa temia. Temia que também as palavras um dia morressem, deixando-a definitivamente só. Temia que as palavras se fartassem dela, que se cansassem de serem utilizadas constantemente.
E, numa manhã, todos desistiram de Ana e ela nunca mais acordou.