sexta-feira, novembro 26, 2004

Destino

Brincas com as palavras
Sabes usá-las: pensando, mas sem sentir.
Não tens medo. Eu tenho.
Ontem, riste-te de mim,
Hoje, dizes que me queres.
Palavras à solta. Puzzles de sentimentos.
Esqueceste-te de mim. Ontem. O mês passado.
Hoje, telefonaste-me e disseste que me amas.
Chorei. Tu desligaste o telefone.

Gosto de ti. Mas não quero.
Não te percebo.
E tu? Sabes quem és?
Não respondas. Pensa. Sente.

Queres-me ver? Quando? Hoje?
Está bem. Naquela esplanada do Rossio.
Olho-te. Sorrio. Percebo-te.
Um menino, um pássaro que não quer parar de voar.
Tu amas-me? Chiu... não respondas.
Beijo-te nos lábios e deixo-te partir.

sábado, novembro 20, 2004

Carta

Acordou. Espreguiçou-se e dirigiu-se à janela, não havia vento mas estava frio. Decidiu que hoje não iria sair de casa, optou por escrever, antes que a tinta se acabasse. Estava perante meia dúzia de folhas brancas – para o caso de se enganar. Queria escrever mas não sabia quais as palavras que deveria colocar naquelas folhas. Pensou e decidiu escrever uma carta. Já não o fazia há muito, agora com as novas tecnologias deixara de escrever à mão, de escrever uma carta e de a colocar no correio, habituara-se aos e-mails. A escrita perdera um bocado do seu encanto, no fundo, quem recebia a carta (neste caso o e-mail) não conhecia a letra da pessoa; ficaria sem saber quais as emoções depositadas em todas aquelas palavras. Não era igual. Ela sorriu por se aperceber a tempo da “loucura” que andava a cometer: a loucura de se esquecer das cartas e de viver perante o teclado, de escrever através dele. Estava certa que seria hoje que recomeçaria os seus hábitos de adolescente: as cartas renasceriam. Sorriu, mais uma vez. A carta tinha destinatário, era uma amiga que já não vira há muito, uma amiga que o destino separou. A carta começara:


Lisboa, 20 de Novembro de 2004

C. Sofia,
Há anos que nada sei de ti. Há anos que não vejo o teu rosto; que não vejo a transparência dos teus olhos. Sinto saudades, mas sei que és passado. Uma amiga de infância, uma pessoa deveras especial que jamais irei esquecer. Conheço-te como ninguém e fomos cúmplices durante anos. Inevitavelmente deixo escorrer lágrimas sobre o meu rosto, dantes eram lágrimas de tristeza por tudo o que aconteceu e pela maneira que se sucedeu; agora, são lágrimas de saudade, lágrimas ao pensar no tempo que vivi, no tempo que fui verdadeiramente feliz. Sei que farás sempre parte de um espaço unicamente reservado para todas as pessoas especiais, diferentes e importantes que eu vou conhecendo ao longo da vida e isso torna-me tranquila.
Hoje, percebo coisas que em tempos não estavam ao meu alcance, coisas que me eram impossíveis de compreender. Faço um sorriso forçado e ao escrever todas estas palavras vejo-te, a imagem da pessoa que foste e que imagino que, ainda, serás. Lamento-me pela divisão das nossas vidas; pelos caminhos opostos que escolhemos ou que fomos obrigadas a escolher. Lamento-me por isso mas fico feliz ao pensar em tudo o que vivi, contigo. Alimento-me dos momentos passados, sobrevivo a pensar no futuro, mas, principalmente, vivo a pensar no presente. Deixei que o tempo corresse; deixei que os ventos escolhessem os nossos caminhos; deixei que a nossa amizade ficasse, agora, apenas em memórias.
Deixei de pensar como as coisas seriam se se tivesse tomado outras decisões, deixei-me de o fazer porque me faz mal. Sentimentalista em excesso e tento moderar isso, mas é me muito difícil. Sei que sou diferente, sei que as amizades que faço são diferentes e até me apaixono de forma diferente e sei, também, que a minha vida é diferente. Mas é isso que me faz sentir única e verdadeiramente eu.
Cresci. Mudei. Aprendi. Caí imenso com os erros que proporcionei e com os obstáculos inesperados que vieram ao meu encontro. Por tudo isso, aprendi. Caí e isso fez de mim uma pessoa com características diferentes, fiquei, interiormente, mais forte e mais capaz de tudo resolver.
Embora, que por vezes a auto estima esteja em baixo orgulho-me da pessoa que sou e isso traz-me ainda mais forças para encarar o mundo.
A carta torna-se longa e tornar-se-á ainda maior porque se há coisa que não me falta são palavras. Estranho ou não, a verdade é que ao escrever-te, senti-te próxima, fazendo-me recordar de tempos passados e isso às vezes faz bem.

Assim termino, com a ânsia de dobrar esta carta, pô-la no envelope e de a mandar pelo correio. A tua morada sei de cor assim como todos os momentos que passámos.

Um beijo terno,
Da tua sempre amiga,
Filipa

terça-feira, novembro 16, 2004

Sentir... (2)



O momento tinha chegado e a ânsia de o ver era cada vez maior. Tinha chegado ao local certo na hora que estava marcada. Sentou-se. Os seus olhos estavam, constantemente, fixados na porta, na esperança de o ver entrar.Já todos tinham chegado, todos menos ele. Aquela cadeira vazia à sua frente começava-a a irritar profundamente. Era estranho. Sentia a sua presença e, no entanto, ele não estava. Todavia, o seu olhar não deixaria de estar entre o relógio e a porta. O tempo passava. Ele não vinha. Parecia incrível, ela, que tanto hesitara, se deveria ir ou não, estava lá: perante a realidade; perante os factos. Mas que interessava ela ter ido, se ele, cobardemente ou não, deixara-se ficar: sem a querer ver; sem a querer confrontar. Ficou triste, desiludida. Após ter tomado a coragem para o ver; a coragem necessária para sentir... ele, ele não tinha aparecido. O seu olhar doce, estava triste e assim foi para casa. Triste. Calma , no entanto. O seu coração estava como se adormecido. Não sentia. Já nem dúvidas tinha, as certezas, essas, também desapareceram. Nada, nada ficou. Não sabia o que sentir, não sabia o que fazer. Estava, agora, sozinha. Olhava em volta e já nada lhe dizia. Tinha que pensar, tinha que saber o que fazer. Tinha que sorrir, mesmo que a vontade fosse chorar. Tinha que viver, mesmo sem ele. Não tinha objectivos, mas tinha que os criar. Não tinha vontade para ver o mundo, mas teria que o encarar. Nada a motivava a não ser... um telefonema, uma palavra daquele que ela teria que esquecer. Sentia frio, arrepiada por pensar nele, mas era inevitável, uma música, um gesto, uma palavra, um sorriso, tudo a fazia lembrar daquele olhar de menino, que não o era.

Pensou nele pela última vez, deixou cair uma lágrima, e esboçou um sorriso.

Pegou na mala e saiu. Agora tudo seria diferente.
Era o começo de uma nova vida...

PS: imagem de autor desconhecido.


quinta-feira, novembro 11, 2004

Sentir...



Parou. Esperou para sentir. Esperou pelo momento certo.
A calma, mergulhada no seu corpo, tornava-a mais pacífica, mais madura e, no entanto, mais apaixonada.
Sentia-se capaz de controlar as emoções, capaz de as enfrentar, embora tivesse receio de fracassar.
Agora, já só o queria ver; sentir o seu cheiro; ouvir a sua voz. Queria tocar-lhe; queria que ele fosse seu mesmo que por breves instantes; queria mergulhar no seu olhar e ficar ali, como se para sempre; queria apenas sentir...

Quando pensava nele todas as dúvidas deixariam de ter sentido, todas as dúvidas seriam transformadas em poeira – desapareciam.

Por vezes, via-se caída nos calabouços da realidade, onde só o eco da sua voz era ouvido.
Precisava dele, mas, ao contrário, ele parecera não precisar dela. Parou. Deixou-se ficar. Não queria prever o que é que iria acontecer. Queria apenas estar preparada; queria apenas ser capaz de o ver, de ver o mundo, que estaria presente no encontro, que era o dela mas não o dele.


PS: Imagem de autor desconhecido.

Último esclarecimento

Aqui está o post que tinha prometido. Estou a fazê-lo como um último esclarecimento, até porque acho que o deva fazer. Já o disse em comentários, mas parece que não deu para entender e por isso a razão deste post:

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama o coração.

Fernando Pessoa, Cancioneiro

Obviamente que não me considero poetisa nem coisa que se pareça. A verdade é que gosto de escrever, sinto-me bem ao fazê-lo. Agora a escrita não é só um conjunto de emoções verídicas, mas também um imaginar; um querer ser ou sentir... Isto a meu ver, é claro. Em todo o caso não considero a escrita uma mentira, nada disso. Em cada palavra há sempre algo que nos una, seja uma experiência vivida/sentida escrita em modo exagerando ou desfigurado. É isso, uma das coisas magníficas da escrita: podemos usar as palavras como quisermos, podendo juntar vários “ingredientes”.

Mais não me quero adiantar sobre este assunto,
Quis fazê-lo e ponto final. Gosto quando vejo que há quem goste do que escrevo; gosto de críticas; gosto de observações; gosto de qualquer tipo de comentários; gosto do silêncio de muitos. Mas admito que me incomoda um bocado julgarem-me pelo que escrevo. Não que isso seja importante para mim mas foi essa a razão deste post ter surgido, apenas para dizer o que disse.
Agora, depois do que disse podem imaginarem e sentirem o que desejarem, então aí, sorrirei, apenas.

Por último aqui fica o meu último “comentário” :

Toda a escrita é sentida mesmo que não tenha sido vivida.

Os meus cumprimentos,
Sara M.

quarta-feira, novembro 03, 2004

Quadro negro: Obsessão. Morte.



Entre jogos de palavras
vou dizendo que gosto de ti:
ontem, hoje, amanhã e eternamente.
Rindo loucamente
guio-me na mesma loucura
esquecendo-me de mim
deixo de viver:
para ter tempo só para ti.

Sei quem és. Não sei quem sou.
Sei onde estás. Não sei onde estou.
Perdi-me em teu ser
esqueci-me de mim nos teus segredos,
e sem espaço para me amar:
amo-te.
Amo-te obcecadamente;
amo-te por capricho;
amo-te porque não sei o que é amar.
Não sei sentir. Não sei viver.
Não sei.

Não me amo, nem posso amar ninguém
não sonho, nem posso ser o sonho de alguém.
Assim, não sou, nem serei, nunca, alguém.

Coração negro, olhos sem brilho,
rosto sem expressão.
Vivo até que a morte me leve,
vivo sem saber o que é viver.
Vivo,
por castigo: sem sentido.

Sem promessas; sem confissões,
sem sorrisos; sem lágrimas,
sem dor...
Escrevo no espelho, do quarto,
o nosso nome,
desenho o sorriso que nunca esbocei e,
lentamente deixo-me cair...

Deixando a última lágrima deslizar pelo meu rosto,
deixo, por fim, de existir.

Comunicado

Cada vez mais se torna complicado postar, aqui, no blog, cada vez o tempo é menos e quando , este existe nem sempre há vontade para escrever.
Escrevo quando quero e porque quero; não, necessariamente, para o blog.
Esqueço-me que o blog é, no fundo, uma responsabilidade.
Agora, vou pensar, ver o que quero mudar, e então, depois, voltar a escrever sem parar.
O meu muito obrigada pela vossa, sempre, comparência aqui neste mundo à janela.