Mudanças II
Atira-se para a cama e deixa-se lá ficar, estendida. Fecha ligeiramente os olhos e pensa na sua vida. Quando, em seguida, vê-se a interrogar: mas que vida? Esta em que os sentimentos mudam à velocidade da luz?; em que me sinto feliz por ser quem sou e, minuto depois, odeio viver neste corpo, neste ser imundo de indecisões?
Que vida? A minha que se enrola e desenrola, se faz e desfaz?; que num momento sorri e depois afoga essa felicidade com a dor das minhas lágrimas?
Que vida é esta?! Como se pode chamar de vida a esta mudança de sensações, de horas passadas em rios de lágrimas, desperdiçadas, perdidas?
Ainda na cama, encontra-se imóvel, de olhos cerrados, cravados no mundo que a incomoda e que a faz ser tão infeliz.
Sente-se cansada de ser quem é; tem raiva da rotina que leva, da "vida" que lhe foi atribuída.
Quer secar as lágrimas, para sempre; atirar-se ao rio; viajar num fio de loucura. Quer fazer tudo o que é censurável; quer amar o proibido e viver sobre o perigo. Quer deixar de sonhar e passar a viver. Arriscar. Deixar de perder e passar a ganhar.
Ah, que loucura, que convicção tão prepotente.
De madrugada, acaba por adormecer em tamanhos desejos. E, na manhã seguinte, acorda impetuosa, capaz de vencer o mundo e disposta a ser quem quer ser; a viver sem instruções, sem regras pertencentes ao politicamente correcto.
Hoje, sente-se bem com a vida que arranjou para si, agora, só espera que essa felicidade dure por muito mais tempo...