quarta-feira, março 30, 2005

vamos fugir

Todas as noites
a mesma música
a mesma tristeza espalhada
          no vazio do tempo
num espaço indefinido

Quero fugir
vamos fugir. Os dois.
encobrindo os corpos
silenciosamente com o manto do sigilo

Vá,
não digas nada
e vem comigo…

domingo, março 27, 2005

Idades

Quis falar de idades, pensei que fosse fácil, mas enganei-me. Nunca escrevi tanto e nunca apaguei tanto o que escrevi. É difícil. É ainda mais difícil quando o assunto se assemelha à realidade. Não me preocupa como estarei daqui a dez/vinte anos, mas preocupa-me, e muito, como estarão aqueles de quem eu gosto, aqueles que me são muito importantes. A diferença de idades é, um tanto ou quanto, um pouco grande. É isso que me assusta; é isso de que fujo, de que me tento iludir, pensando que eu crescerei, mas que eles ficarão sempre assim. Suspensos no tempo, com a mesma imagem, com o mesmo espírito. É esse o meu maior medo. O medo de os ver perder e isso, isso eu não posso tolerar, não posso nem quero consentir. Não quero! E isso basta.
A minha maior fraqueza são os sentimentos e as emoções que não consigo controlar.

Hoje apetecia-me tanto vê-los, todos eles. Olhá-los e sentir que os vou ter sempre comigo. Sempre.

quinta-feira, março 24, 2005

Apaixonada

A casa estava vazia. O silêncio assustava. O tic-tac do relógio ardia em lembranças já esquecidas no tempo. E o meu olhar deslumbra nitidamente a imagem que eu criara de ti.
Refugiei-me no meu quarto. Deixei a televisão ligada para sentir que não estava só.
Abri a janela e deixei-me ficar debruçada sobre ela. Senti aquele ar nocturno e aquela brisa que se fazia sentir, timidamente.
Fui olhar para aquela tua foto, mais antiga, que eu tinha já imprimido. Olhei-te nos olhos – como se fosse possível. E, por momentos, pensei que gostasse de sofrer. A minha vida começara a tornar-se num ciclo vicioso. As noites começavam a ser o mesmo pesadelo. Sem a tua presença; sem aquelas tuas mãos que deixavam marcas ao tocarem no meu corpo. Que doces memórias e que realidade tão amarga.
Ia dormir. Dormir seria a fuga perfeita, embrulhada nos lençóis, encolhida como uma concha, e entregar-me-ia a um mundo onde a ilusão é fortemente alcançada.
Despi-me e vesti a camisa de dormir, como mais um acto de plena rotina. Olhei-me ao espelho e vi nele o reflexo do teu rosto. Fiquei algum tempo inerte a olhar aquela imagem e decidi, então, que tinha que fazer daquela miragem algo real. Escolhi uma roupa ao acaso e vesti-me velozmente, deixando cair o livro – que tu me deste - que guardava religiosamente na mala. Saí deixando a porta mal fechada e fui ao teu encontro. Foi então que me lembrei que não sabia a tua morada de cor. Sabia tudo ti, mas esqueci-me desse pormenor. Enfim… distracções. Senti-me perdida pelas ruas de Lisboa.
Sentada, numa das calçadas, ia dizendo baixinho o teu nome. Ia inconscientemente dizendo: bem-me-quer, mal-me-quer, muito, pouco ou nada. Foi então que alguém me tapou os olhos. Lentamente ia levantando as mãos ao encontro de quem me tocava suavemente. Senti a tua pele mas não acreditava que pudesses ser tu. Virei-me para trás e apercebi-me que era real, quando me levantaste e nos olhamos e sorrimos.
Falei-te muito abertamente do que sentia e tu permaneceste num silêncio que me incomodava. Corei. Ia pedindo desculpas quando me tapaste a boca e de seguida me deste um beijo que me fez adormecer, naquela calçada, contigo… até hoje.

domingo, março 20, 2005

O meu silêncio

        É com as minhas lágrimas; com este imenso desejo, com este sofrer de te querer. É com esta ambição, este sonho isolado em mármore. Esta inocência que se vai perdendo, este jeito de menina que se move e se destrói na ilusão de te ter.

Amo-te!

domingo, março 13, 2005

Maldito frio...

Os nossos corpos tremem
e a nossa voz emudece
envolvemo-nos, então, um no outro
e, lentamente, os nossos lábios juntam-se.

Maldito frio que nos condena
que nos obriga a sermos um só
que nos aprisiona no corpo dum do outro
e que faz com que nos amemos.

Não é justo!
O nosso olhar não se deveria cruzar
as nossas mãos,
jamais deveriam sentir a pele dum do outro
deveria ser proibido a junção dos nossos lábios
Devíamos ser condenados se quebrássemos as regras

Maldito frio que nos entrega à força do amor
que interfere nos nossos sentimentos
que nos obriga a demonstrá-los. Sem querermos.

Maldito frio,
que nos faz acordar no mesmo leito
Maldito frio,
que faz com que sejamos tão felizes…

quarta-feira, março 02, 2005

Remorsos

Gota a gota
tudo vai passando
fica somente uma marca inapagável
que nos mói a cabeça
mas principalmente, o coração.
Uma marca que nos condena
que nos aprisiona para todo o sempre.
Que nem o tempo,
que nem uma vida
apagará.
Pouco a pouco
somente a presença existe
a alma, essa vai sendo destruída.
Lentamente. Muito lentamente.
A dor é cada vez maior
o sofrimento é cada vez mais sufocante.
E vamos caindo, caindo pela calçada,
pelos longos matos verdejantes
pela terra que nos viu nascer,
crescer e agora…
… que nos vê a morrer.
De imagem abstracta
um aspecto sujo e rudes
transforma aquele,
aquele que um dia foi um ser humano.
Por ter sido quem foi:
é que viveu o que viveu
é que sofreu o que sofreu.
Foi pelos remorsos,
que morreu.

08 de Julho de 2004



PS: tenho andado doentinha, por isso sem grande vontade para criar algo novo. Espero que compreendam,
obrigada :)