domingo, setembro 18, 2005

Ana



_ Acorda, Ana!

Ana era uma jovem que tinha parado no tempo. Há dois anos que tinha desistido de continuar a crescer. Limitava-se apenas a mergulhar num lago de dor e de revolta. Infiltrava-se, todos os dias, num mundo que já não existia. O mundo de todos aqueles que ela amara e que um dia os viu partir.
Deixou os estudos e, em tempos, chegou a estar internada numa clínica psiquiátrica.
Refugiou-se no quarto, isolou-se daqueles que a amavam e nunca mais viu a luz do sol.
Entre o sono e a escrita, assim ia vivendo. Dormia durante o dia e à noite brincava com as palavras. E, assim, reconstruía o seu mundo, rendendo-se à escrita, ficando, por isso, escrava das palavras. Agora, só uma coisa temia. Temia que também as palavras um dia morressem, deixando-a definitivamente só. Temia que as palavras se fartassem dela, que se cansassem de serem utilizadas constantemente.

E, numa manhã, todos desistiram de Ana e ela nunca mais acordou.

segunda-feira, setembro 12, 2005

Ser feliz

Pensei que pudesse fugir de ti. Fechar os olhos e acordar num outro mundo, onde a realidade fosse outra. Pensei que tudo fosse tão mais fácil. Mas não é. A verdadeira realidade fui-a descobrindo dia após dia; a certeza da vida foi-me dada com lágrimas e algum sofrimento – para muitos desnecessário, talvez. Aprendi a viver assim. Encontrei-te. Amei-te. E aprendi a viver sem esse amor. As lágrimas caem enquanto olho para a [tua] fotografia do costume. É inevitável. Penso que tudo poderia ter sido diferente. Mas não foi. Lamento por não te ter aqui, agora. Gosto de ti. Mas aprendi, também, a respirar o ar que paira à minha volta. Um ar solto da penumbra que, em tempos, me envolveu. Esboço um sorriso, embora que ainda triste. Um sorriso que me convida a novas aventuras, novos olhares e novos sonhos. Guardo-te, agora, num lugar que está reservado para todos aqueles que me são especiais. Penso em ti; penso nas vezes que estivemos juntos. Agora sim, o teu rosto, a tua voz e todas as palavras que me disseste estão gravadas e jamais serão apagadas das minhas lembranças felizes, do meu coração. Sorrio, e estou pronta a ser feliz…

quarta-feira, setembro 07, 2005

Paraíso

Abro a porta proibida
E caio num abismo
Em que cada lágrima derramada
É um sonho perdido

Esqueço a quimera
Onde os teus dedos me tocam, de mansinho
E acordo vivaz para a realidade
Gravando no peito a dor do amor

E no cravo da saudade
Abrigo o teu olhar,
Abrigo o teu sorriso
Tornando esse refúgio
No meu paraíso

sábado, setembro 03, 2005

«Chora...
Solta tudo o que tens dentro de ti, deixa que as lágrimas te libertem dessa tristeza constante que não sabes ou queres explicar.
Desata o nó que trazes no peito, grita, bate, ofende...e chora.
Deixa que as lágrimas se transformem no ribeiro que vai transportar todas as tuas angústias, os teus medos, as tuas revoltas.
Não tenhas medo, que a Vida segue sempre, serena. Nós é que lhes acrescentamos curvas tortuosas que, por vezes, nos fazem derrapar.
Levanta a cabeça, respira fundo, aceita o que tens de bom e deita fora o que te faz chorar. Porque nada, nem ninguém, merece que se chore assim.»


Li estas palavras no blogantes , o blogue da Ana. Numa primeira leitura, passaram-me despercebidas. Não lhes dei grande importância, confesso. Talvez porque não as queria entender. Mas, hoje, voltei a relê-las e dei-lhes outro sentido. Hoje, foram-me importantes. Muito. Transcrevo-as, agora, para aqui, usando-as como se fossem minhas.

quinta-feira, setembro 01, 2005

Deliciosamente enganada

Engana-me com as tuas lágrimas
delicadas, prudentes, falaciosas
Faz-me sentir perdida no meio das tuas palavras
Abraça-me.
Deixa que o meu corpo se una ao teu
e que o tempo possa parar
e que eu me volte a encontrar,
nesse teu olhar
que me trai diariamente,
num silêncio obscuro
que me deixa cair numa melancolia deprimente
Deixa-me ser verdadeiramente tua
Permite que esta dor me consuma,
mas que sofra a teu lado,
para sempre.