sexta-feira, dezembro 23, 2005

Feliz Natal & um óptimo Ano Novo

As minhas mãos,
Frias como esta noite,
Fundem-se com a janela do meu quarto
Enquanto que a chuva, zangada,
Vai escorrendo com toda a sua força
Penetrando-se no meu olhar
Entristecendo-o, ainda mais

Afastando as mãos do vidro
Sopro o vento
Ouço a terra
E agarro a vida
Entrego-ta a ti

A chuva pára
Aliviando a minha dor
E secando as minhas lágrimas
Que me destruíam o rosto
E a alma

Caminho sobre o céu
Que me fará chegar até ti.
Beijo esta noite
Que será para sempre nossa.
Olho-te, em pensamento,
E prometo que te amarei
Para sempre

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Tenham um Feliz Natal & um óptimo Ano Novo, amiguitos :)
E comam muito, comam. Deixem lá, depois recuperam "a forma" no ano seguinte LOl
Beijinhos,
Sara a.k.a AmigaTeatro

quarta-feira, dezembro 21, 2005

Lago

Como é dolorosa, esta teimosia de sofrer passiva
o drama deste mundo que se queima
em cada monte de ervas verdes!

Dóis-me. Tu não sabes como eu sinto - sempre
esta mania de me convencer de que sofro.
É verdade. Queria-te aqui. Despido de memória.
Mergulhaste neste lago e eu lavei-te a boca e os olhos.
Depois vieste dormir com o coração no meu colo de mãe.
Vem outra vez. E outra. Eu dou-te um filho da natureza. Tu.


in A mar te, Lena d’Água
Imagem do Corpo nº 20
Ulmeiro 1984



O curioso é que eu bem que podia dizer como este poema se encaixa na perfeição na minha pessoa (pelo menos alguns versos)... mas não digo.

sexta-feira, dezembro 16, 2005

Amo-te. Amo-te, mas não te perdoo. Prometeste que o nosso amor seria eterno, duraria toda a vida. Fizemos juras de um desejo que ficou por cumprir. Não te perdoo teres partido, sem mim. Não avisaste. Disseste Adeus enquanto me beijavas e, nos meus braços sólidos e frios, deixaste-te cair. Odeio-te por ter que viver com este amor que era teu, só teu; por me sentir vazia e, no entanto, cheia de amor e não te ter para to dar. Foste cruel. Mentiste-me ao dizeres que seríamos um só, para sempre. Mas esse sempre foi tão curto...

Amo-te e não há mais nada a dizer, tudo o resto se resume à dor que sinto.

segunda-feira, dezembro 12, 2005

Amor eterno

Por terra e por mar
implanto o meu amor
que se criou aqui
e que se espalhará no ar

Abre as asas, amor
e respira esse vento
capaz de te apertar e te beijar;
capaz de te dar tudo aquilo que eu,
amando-te incondicionalmente,
não te dou.

Quero-te longe desse buraco.
Negro. Profundo.
Quero-te longe dessa dor
que te come alma e te deixa incapaz
de me amar, de te amar.

E longe de mim,
quero-te feliz.

segunda-feira, dezembro 05, 2005

Ritual assombroso

Ainda o sol não tinha nascido e Rita, de mochila às costas, preparava-se para mais um longo dia. Na verdade, esses longos dias começavam a fazer parte da sua rotina. Sai de casa e, enquanto caminha, vai inalando aquele ar de doce manhã ainda adormecida que a faz sentir, por momentos, menina. Não pára de caminhar. O tempo não o permite e, o terrível frio que se faz sentir obriga-a a caminhar sem parar enquanto que o vento gelado lhe vai cortando o rosto, deixando as suas faces brancas levemente rosadas. Chega, por fim, à paragem onde, desgraçadamente, ainda a fazem esperar. Treme. Põe as mãos nos bolsos e, inevitavelmente, pensa no dia que lhe espera.

Na camioneta senta-se confortavelmente até que alguém descaradamente, e sem alternativa, se senta a seu lado. É um daqueles homens de olhar duvidoso, barrigudo, que adormece cuja postura é de incomodar. Fora o que se senta a seu lado o resto das pessoas, tipicamente provincianas, vão falando umas com as outras - sem se conhecerem - dos vizinhos; do senhor da padaria que anda enrolado com a menina de quinze anos, filha da Maria Augusta, que já está reformada e que nunca se encontra em casa. Tentando ignorar o cenário que a rodeia fecha os olhos e pensa em algo que a faça feliz. É difícil. Ultimamente não há nada que a faça feliz. As lágrimas vão caindo lentamente pelo seu rosto. Não faz mal. Àquela hora ninguém repara. As lágrimas continuam, então, a escorrer, sempre com grande lentidão, até porque cada lágrima é um sonho que acaba de ver interrompido.
Lá fora, o dia começa a nascer. Pela janela começa a ver que o azul escuro, quase preto, de manhã preguiçosa começa a dar lugar a um dia de cores claras, indefinidas. Um dia triste.

Chega finalmente à capital. E, após ter que andar em mais uma meia dúzia de transportes, chega ao seu destino. O seu olhar vivaz logo pela manhã incomoda aqueles que, de mau humor, vão criticando o facto de o dia ter que começar tão cedo. E, enquanto eles se queixam, Rita pensa no quão eles são privilegiados.

Na escola, enquanto não se houve o toque de entrada, Rita retira da mochila o pequeno livro de poesia que acompanha diariamente. Abre-o, ao acaso. Lê os dois primeiros versos e fecha, de repente, o livro. Coloca-o na mala e, de passos apreçados, movimenta-se na direcção do portão, que separa o mundo onde dedica tanto tempo e o mundo exterior, que pouco conhece.

_ Rita! Onde vais? Espera… - Grita Isabel.

_ Não sei… Vou para longe!
Quero fugir desta rotina que me sufoca e que, aos poucos, me vai envenenando por completo. – Responde Rita, enfurecida.

_ Espera, Rita, por favor! Não faças nada que te possas vir arrepender.

_ Já me arrependi da vida que tenho e nada pode ser pior que isso.
Adoro-te, Isabel. Mas a Rita, tua amiga, morre aqui.

Talvez seja a forma mais cobarde de resolver os problemas que a atormentam. Mas, na altura em que precisava de mais carinho; na altura em que precisava de se sentir amada, foi a altura em que aqueles amigos , sem se apercebendo da situação, a deixaram completamente desamparada.

Rita parte para longe. E se será feliz ou não, não sabe. Mas tem a certeza de que os problemas que poderá vir a ter nunca mais serão os mesmos...