Riamo-nos comos uns loucos. Lembras-te, João? Era precisamente naquele banco de jardim que fazíamos promessas de amor e que, tão carinhosamente, me beijavas a face.
«Eu lembro-me é do teu cabelo. Solto. A voar sem limites. Era ruivo, cor da doçura.».
Lembras-te?? Oh, o quanto tu gostavas do meu cabelo, com cor, na altura. Beijavas-mo sempre que podias. Lembro-me tão bem.
Bendito seja aquele banco de jardim. Longe de casa, para ninguém nos ver. Todas as manhãs era a mesma história. A princesa desaparecia do seu castelo e o mais nobre príncipe ia ter ao seu encontro, naquele banco de jardim. Tantos foram os beijos trocados e tantos eram os desejos de fuga eterna. Tu nunca quiseste fugir. Preferias lutar para que, um dia, a nossa história de amor pudesse ser vivida sem segredos e que, de tão maravilhosamente bela que era, fosse divulgada. Isso nunca aconteceu e tivemos mesmo que fugir.
«Eu amava-te tanto…!»
Ei, e agora?
«Agora amo-te ainda mais!»
Amar mais que tanto é giro. Eu também te amo assim. Tanto, tanto, tanto.
Éramos tão novos, tão inconscientes, tão felizes. Tenho saudade dessa felicidade. Oh, João! Deixámos tudo para viver um amor que agora faz com que só nos tenhamos a nós. E eu, que adorava dançar no meio da multidão, espalhar o meu sorriso e dar música com as minhas gargalhadas de criança, de menina, de mulher.
Não, não fiques com esse olhar. Eu amo-te e faria tudo de novo. Tu sabes. Apenas tenho saudades daqueles que não me souberam amar e que, por isso, me deixaram fugir. Tenho saudades da minha vida, de ti, de mim, de nós enquanto jovens. Tudo parecia ser tão fácil, tu lembras-te do que me dizias? Eu recordo-te. Dizias que a felicidade iria estar, para sempre, viva dentro dos nossos corações. Eu acreditei. E acredito. Mas dantes não tinha medo e agora tenho. Tive o teu amor, fui feliz e ganhei experiência e agora, ao fim de tantos anos, tenho medo. Medo desta minha velhice. João, promete-me que eu morrerei antes de ti, promete-me.
«Agora é a minha vez, minha eterna jovem princesa, lembras-te do que dizias? Eu recordo-te. Em tom de menina dizias que serias a última a morrer. A última. Tinhas tanto para dar. Davas vida a quem passava. E eu, jovem pateta, ria-me sempre com esses teus gestos e essa tua maneira de ser, tão peculiar. Só tu. Enquanto vivermos quero ver-te sempre feliz. Sempre.»
Oh, João! Um dia temos que voltar àquele banco de jardim, sim? Agora tenho frio. Vamos dormir?! Dorme bem, meu amor.